Aposentado sinaliza ruas de Ribeirão Preto com dinheiro do próprio bolso

Nelson Stefanelli estima já ter instalado cinco mil placas em ruas de Ribeirão (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)

No começo, o aposentado Nelson Stefanelli, de 72 anos, apenas queria facilitar a orientação dos motoristas perdidos que passavam perto de sua casa em Ribeirão Preto (SP). Mas as primeiras placas que ele fez à mão em 2004 para indicar nomes de ruas nos Campos Elíseos, bairro em que mora, se multiplicaram. Em nove anos, o ribeirão-pretano estima já ter confeccionado por conta própria cinco mil indicações de ruas, bairros, hospitais e saídas para outras cidades como Franca (SP) e Araraquara (SP).

Com fundo branco e tinta preta, as placas em PVC, muitas vezes única informação disponível nos locais em que estão instaladas, podem ser vistas em bairros como Ipiranga, Vila Tibério, Vila Virgínia, Centro, Jardim Paulista, Vila Seixas, além de Jardim Botânico, Alto da Boa Vista e Ribeirânia. Entram ainda nos destinos já sinalizados pelo aposentado conjuntos habitacionais como Wilson Toni e Paulo Gomes Romeo.

"Comecei a fazer porque a turma me perguntava muito sobre as ruas. Comecei pelos Campos Elíseos, Jardim Mosteiro e fui espalhando. Atualmente tenho feito 60 placas no Jardim Itaú. Eu vou andando pela cidade e vendo onde falta. Já as que eu coloquei eu guardo de cabeça", afirma Stefanelli. Além de identificar pessoalmente os locais sem sinalização e elaborar as placas, ele próprio as fixa na mesma altura em que deveriam estar as orientações oficiais do município.

"Uma vez a Prefeitura retirou 45 placas de mim na Avenida Francisco Junqueira. Reclamei, peguei todas de volta, retoquei e as coloquei no lugar de novo. Se forem tirar, devem colocar placas boas no lugar", diz o aposentado, que somente para fazer as placas estima dedicar em média duas horas por dia.
Placas feitas por aposentado orientam sobre nomes de ruas, além de localização de hospitais (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)
Placas orientam sobre localização de hospitais
(Foto: Rodolfo Tiengo/G1)

Mas a sua mulher, a dona de casa Lindomar de Oliveira Stefanelli, de 57 anos, garante que Stefanelli perde a noção do tempo quando está dedicado ao ofício. "Às vezes ele começa de manhã e vai até meio-dia. Quando ele está fazendo as plaquinhas fica cego, surdo e mudo", brinca Lindomar, com quem Stefanelli é casado há 24 anos.

Segundo ela, além de fazer bem aos motoristas, a atividade é uma espécie de terapia para seu marido. "Para ele é uma forma de distrair a mente e também de fazer algo útil pela cidade. Acho muito bom", afirma a dona de casa, que às vezes ajuda Stefanelli a carregar o carro do casal com PVC. "Dou uma mãozinha, mas não muito."

Além de ser um passatempo, a produção de placas, de acordo com o ex-comerciante, não pesa no orçamento. Segundo Stefanelli, uma lata de esmalte sintético suficiente para 400 placas sai por R$ 20. O PVC, quando não é recolhido em caçambas, é doado por conhecidos. "Tem uma firma que sempre me dá. Tinta e arame que é baratinho eu compro. Custo é muito pequeno, é coisa de centavos. Não me importo em fazer de graça".

Para ele, a melhor recompensa tem sido o reconhecimento de quem depende da sinalização. "A gente vê as placas na cidade inteira. Tem lugar em que a gente só consegue se orientar por causa das placas dele", afirma o taxista Joaquim Maglia Neto, de 29 anos.

Por declarações como essa, Stefanelli alega que não pretende parar tão cedo. "Enquanto eu tiver saúde vou fazer isso."

Prefeitura
Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, a Prefeitura informou que está finalizando um projeto de lei para regulamentar a instalação de placas, mas não deu previsão de quando isso será feito. A administração municipal não respondeu se concorda com o trabalho de Stefanelli, nem confirmou se chegou a retirar alguma placa confeccionada pelo aposentado.
Stefanelli diz gastar duas horas por dia para fazer placas (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)
Stefanelli diz gastar duas horas por dia para fazer placas (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)

G1

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